SIMPEC: ferramenta para simulação de sistemas de produção da bovinocultura de corte

No intuito de avaliar as melhores estratégias para a intensificação da pecuária de corte brasileira, foi desenvolvido o modelo SIMPEC- Simulador de sistemas de produção da Pecuária de corte boniva. O SIMPEC simula, dinamicamente, ao longo do período projetado, a evolução mensal de sistemas de produção da bovinocultura de corte em ciclo completo (cria, recria e engorda) para uma determinada unidade espacial, que pode ser desde uma propriedade até agrupamentos de propriedades no nível municipal ou regional. O modelo computa os impactos da adoção das tecnologias propostas nos cenários no crescimento e distribuição das categorias de idade e sexo do rebanho, volume de carne, produtividade, lucratividade e rentabilidade e emissões de GEE resultantes. A ferramenta conta ainda com uma interface Wizard que a torna mais amigável.

Abordagem geral da modelagem

Para cada uma das 557 microrregiões do Brasil, a dinâmica mensal de crescimento do rebanho bovino é simulada pelo Simpec levando-se em consideração: os dados de rebanho e da área de pasto, capacidade suporte das pastagens, indicadores zootécnicos e estratégias de manejo como a terminação dos animais em confinamento e a reforma das pastagens. Para uma melhor representação do contexto econômico também são considerados os preços regionais de insumos e da carne, aptidão agrícola, a logística regional atual e futura e cenários subjacentes de mudança no uso da terra. São computados ainda as emissões de GEE, incluindo aquelas oriundas do rebanho, do uso de fertilizantes e o sequestro de carbono nas pastagens.

Cenários de intensificação

Projetamos a evolução do rebanho bovino brasileiro mediante um cenário “business-as-usual” (BASE) e outros três de intensificação (MIX-PAST, MIX-SUP, MIX-SUP+). No cenário BASE não há qualquer meta de produção a ser alcançada para o futuro e considera-se apenas um incremento médio de produtividade tendencial, seguinda as taxas históricas. Os demais cenários (MIX-PAST, MIX-SUP, MIX-SUP+) projetam a evolução do rebanho mediante a adoção de um conjunto de estratégias que objetivam aumentar a produção de carne para um volume pré-estabelecido para 2030. No cenário MIX-PAST é dado maior foco à intensificação via reforma de pasto enquanto nos demais (MIX-SUP, MIX-SUP+), maior importância é dada à intensificação via suplementação com grãos. Quanto à disponibilidade de pasto, no cenário BASE é maior por conta das premissas assumidas nas projeções de uso e mudança de uso do solo.

As escolhas metodológicas adotadas são descritas a seguir.

A área de pasto inicial foi obtida de Soares-Filho et al. (2016). Para os anos subsequentes, a quantidade e a localização das pastagens foi obitida de Rochedo et al. (2018) sob dois cenários de mudança de uso do solo, IEG (Intermediate environmental governance) e SEG (Strong environmental governance). O primeiro pressupõe a manutenção das atuais políticas de controle do desmatamento e o segundo um aumento da governança e consequente redução do desmatamento bem como a implementação completa do Código Florestal.

Barbosa et al. (2015) elaboraram um mapa de áreas prioritárias para a intensificação que pode ser entendido como a propensão à adoção de determinada estratégia dadas as condições médias locais. No presente estudo assumimos que a intensificação ocorreria apenas nas áreas categorizadas como “alta” e “máxima” prioridade para intensificação, segundo os referidos autores.
metod_intensificacao

Inicialmente todas as pastagens foram incluídas na categoria extensiva, mas com diferentes valores de capacidade suporte. Para os anos subsequentes, esses valores foram alterados de acordo com a taxa de reforma das pastagens e variou espacialmente em função do potencial regional para a produção de forragem, ilustrada na figura abaixo.
capacidade_suporte

O montante de pasto a ser reformado até 2030 variou entre os cenários de acordo com as premissas assumidas para intensificação e foi distribuído espacialmente em função da favorabilidade regional para intensificação da produção.
Para o ano inicial o rebanho de cada microrregião foi obtido nas bases do IBGE e para os anos subsequentes seu crescimento foi definido no SIMPEC em função da evolução da área de pasto e da respectiva capacidade suporte. A distribuição das categorias de idade e sexo dos animais no rebanho é definida pela combinação dos indicadores zootécnicos e pelas estratégias de intensificação (confinamento e reforma do pasto).

Inicialmente assumimos que todo o rebanho estaria condicionado aos valores típicos de sistemas extensivos e para os anos subsequentes, para o rebanho lotado nas áreas prováveis para intensificação, assumimos uma transição gradativa para valores médios de sistemas melhorados.
coeficientes_zootec

A depender das premissas de cada cenário, assumimos a adoção do creep-feeding e de diferentes taxas de crescimento do confinamento. No creep-feeding os animais recebem uma mistura de grãos e minerais e no confinamento, uma mistura de grãos, silagem de milho e mistura mineral. Para cada caso são computadas as despesas operacionais e no caso do confinamento, inclui-se os investimentos demandados para comportar a quantidade adicional de animais terminados neste sistema.
O SIMPEC computa os investimentos e as despesas operacionais em cada cenário simulado. As despesas com o manejo nutricional do rebanho e das pastagens variam espacialmente em função dos preços de grãos e dos fertilizantes, respectivamente. O modelo computa também as receitas geradas em cada cenário, que variam em função da produção e do preço pago pela carne.

Para cada cenário são computadas as emissões entéricas (CH4), de dejetos (CH4, N2O) e do uso de fertilizantes (CO2, N2O) e também o sequestro de carbono nas pastagens reformadas, estimado com base no método de comparação dos estoques de carbono no solo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Barbosa, F. A.; Vando, T.; de Oliveira, F. L.; Bicalho, E. A. S.; Florence, R. A.; Mandarino, H.; Azevedo, O. Indicadores de sustentabilidade na pecuária bovina de corte – projeto pecuária integrada de baixo carbono. In VI Simpósio nacional sobre produção e gerenciamento da pecuária de corte, edited by Décio Souza Graça Fabiano Alvim Barbosa, Lívio Ribeiro Molina, Venício José de Andrade, Fabrício Teixeira da Rocha, Geraldo Helber Batista Maia Filho, Jiliana Mergh Leão, Patrícia Caires Molina, 225, Belo Horizonte – Minas Gerais, 2014.

Rochedo, P.; Soares-Filho, B.; Schaeffer, R.; Viola, E.;  Szklo, A.;  Lucena, A.; Koberle, A.; Davis, J.; Rajão, R.; Rathmann, R. The threat of political bargaining to climate mitigation in Brazil. Nature Climate Change, 8: 695-98, 2018.

Soares-Filho, B.; Rajão, R.; Merry, F.; Rodrigues, H.; Davis, J.; Lima, L.; Macedo, M.; Coe, M.; Carneiro, A.; Santiago, L.; Brazil’s Market for Trading Forest Certificates. PloS one, 11: e0152311, 2016.

Para mais detalhes sobre a metodologia acesse abaixo a publicação completa.

livro_2