Atualmente a cadeia da bovinocultura de corte consiste num segmento do agronegócio brasileiro de elevada concorrência, incertezas e redução continuada das margens de ganho. Os sistemas de produção de gado de corte são complexos e diversificados, não havendo fórmulas e nem recomendações únicas que possam ser largamente aplicadas por todo o Brasil. Por conseguinte, cada produtor deve desenvolver seu sistema de produção, combinando suas metas às condições ambientais e mercadológicas. Cada produtor deve aliar seu sistema de produção às suas capacidades financeiras e aos seus recursos humanos, tendo como base as responsabilidades social e ambiental.
A capacidade gerencial do administrador na gestão do negócio agropecuário, envolvendo o planejamento, direção e controle dos processos da atividade, bem como a alocação dos recursos produtivos de maneira racional, são fundamentais para a eficiência técnica e econômica do sistema de produção. A gerência deve se manter vigilante, não permitindo que o aumento de custo unitário diminua sua vantagem competitiva, uma vez que baixo custo unitário significa uma vantagem competitiva no mercado.
Quando se aumenta a produtividade, aumenta-se o custo total (principalmente o variável) e, devido a maior quantidade de produtos gerados (bezerros, kg de peso vivo ou carcaça), o custo unitário diminui. Com menor custo unitário de produção e mesmo preço médio de venda, ocorre maior receita total, além de aumento do lucro total e da rentabilidade do sistema.
A produtividade deve ser analisada de acordo com a disponibilidade dos fatores de produção (terra, trabalho e capital) que, sendo mais escassos, tornam-se mais caros. Quando se aumenta a produtividade do rebanho (kg/cabeça/dia), se observa também o aumento da produtividade da terra (arrobas/ha), da produtividade do trabalho (cabeças/dia/homem) e da produtividade do capital (arrobas/ha). O uso de tecnologias permite aumentar produtividade e, consequentemente, reduzir o custo médio unitário. É por esse motivo que as propriedades mais tecnificadas são mais competitivas.
Um estudo sobre a avaliação técnica e econômica da bovinocultura de corte em propriedades nos estados de Minas Gerais e Bahia mostrou que os fatores relacionados ao sistema de criação, escala, ano, localização e capacidade gerencial influenciam a rentabilidade da atividade. O sistema de recria-engorda extensivo em Minas Gerais (ver tabela), caracterizado por baixa tecnificação, obteve baixa produção de peso vivo por hectare, lotação por hectare e taxa de venda. Essa baixa produtividade ocasionou prejuízo, isto é, a receita total não conseguiu pagar nem os custos operacionais variáveis (margem bruta negativa). Já o sistema de engorda intensivo com uso de tecnologias (adubação de pastagens e confinamento) obteve elevados índices produtivos: produção de peso vivo, lotação e taxa de venda. Apesar de maior necessidade de desembolsos para custeio e investimento, a intensificação proporcionou à atividade lucro operacional (margem líquida), isto é, a receita total pagou todos os custos operacionais variáveis e fixos (inclusive depreciações).
Os sistemas de ciclo completo semi-intensivo, com maior escala de produção, também obtiveram lucro operacional. Como o período avaliado desse estudo compreendeu os cenários de baixa de preço da arroba de bovinos (2000 a 2006), o retorno do capital investido médio anual foi abaixo das taxas médias anuais de poupança (8% ao ano) em todos os sistemas, ficando negativo no sistema de recria-engorda extensivo.
Médias anuais dos indicadores técnicos e econômicos de acordo com cada sistema de produção avaliado
Indicadores | Engorda Intensivo | Recria-engorda Extensivo | Completo Semintensivo | Completo Semintensivo |
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Período avaliado | 2004 a 2007 | 2005 a 2007 | 2000 a 2004 | 2004 a 2006 |
Estado | Minas Gerais | Minas Gerais | Bahia | Minas Gerais |
Média de cabeças | 459 | 240 | 3,87** | 10,8** |
Hectares (ha) | 155 | 458 | 2,92 | 9,12** |
Lotação cabeças/ha | 3 | 0,5 | 1,3 | 1,2 |
Peso vivo produzido/hectare kg | 703 | 50,7 | NA | NA |
Taxa de venda % | 77,5 | 30,6 | NA | NA |
Taxa de desfrute % | NA | NA | 29 | 38 |
Custos Oper. Variáveis - R$ (mil) | 844 | 163 | 340 | 2,21* |
Custos Oper. Fixos - R$ (mil) | 53,3 | 24,2 | 316 | 736 |
Custo Oper. Total - R$ (mil) | 898 | 187 | 656 | 2,95* |
Receita total - R$ (mil) | 922 | 156 | 910 | 3,90* |
Margem bruta - R$ (mil) | 78,4 | -6,72 | 570 | 1,77* |
Lucro Operacional1 R$ (mil) | 25,1 | -30,9 | 254 | 1,03* |
Lucro Operacional/hectare R$ | 156 | -67,5 | 86,8 | 113 |
Retorno Capital - % ao ano | 1,33 | -3,1 | 3,39 | 4,75 |
Retorno Capital com VP - % ao ano | 3,44 | 5,34 | 9,75 | 9,21 |
No que diz respeito à escala de produção, índices zootécnicos e ano de produção no sistema de ciclo completo de bovinos em Minas Gerais, os indicadores econômicos (receita total, lucro operacional e retorno do capital) aumentaram com o aumento da escala, melhora dos índices zootécnicos e em função do ano, pois os preços médios de venda de bezerro e arroba bovina aumentaram a partir de 2008 (ver tabela). As tecnologias implantadas foram a estação de monta, inseminação artificial, exame andrológico de touro, seleção das matrizes, uso de cruzamento industrial, suplementos múltiplos para bovinos em pastagens, confinamento, adubação de pastagens, treinamento de mão de obra, planejamento e gestão administrativa e de mercado.
Índices zootécnicos do Projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono (PIBC) obtidos no período de abril/13 a março /14
NA – não aplica. *milhares
Integrada
MédiaIntegrada
MáximoIntegrada
MínimoBaixa
tecnologia
Fazenda URT Fazenda URT Fazenda URT Fazenda
Número de Cabeças 1,15* 139 3,15* 154 338 136 526
Idade média de venda (meses) 34 NA 30 NA 38 NA NA
Idade média ao abate dos machos (meses) 38 NA 36 NA 40 NA NA
Idade média ao abate das fêmeas (meses) 28,5 NA 24 NA 36 NA > 36
Taxa de prenhez (%) 85,3 NA 91,0 NA 80,0 NA 57,0
Taxa de mortalidade até desmama (%) 0,46 NA 0,13 NA 0,77 NA 1,54
Arrobas produzidas/hectare 12,1 21,6 15,6 27,3 7,4 17,7 6,7
Lotação (UA/hectare) 1,65 2,76 1,92 3,1 1,2 2,43 1,39
Resultados financeiros da introdução de tecnologias de manejo de pastagens (reforma e adubação) e suplementação alimentar, entre outras, em fazendas no bioma amazônico do Projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono (Instituto Centro de Vida) demonstram que a maior produção de arrobas leva ao menor custo unitário (arroba), apesar de maior necessidade de investimento e custeio por animal (ver tabela). Os indicadores de produtividade do projeto permitem caracterizar o sistema como semi-intensivo, pois as lotações médias foram acima de 1,6 UA/hectare/ano, produzindo acima de 12 arrobas por hectare/ano. As médias de todos os indicadores (taxa de prenhez, mortalidade e lotação e produção de arrobas) avaliados foram superiores nas fazendas que utilizaram as tecnologias preconizadas pelo projeto.
Resultados financeiros do Projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono (PIBC) obtidos no período de abril/13 a março /14
NA – não aplica. *Margem bruta = receita – custos variáveis. **milhões. ***milhares.
Integrada Média Integrada Máximo Integrada Mínimo Baixa
tecnologia
Fazenda URT Fazenda URT Fazenda URT Fazenda
Investimentos R$/hectare (mil) NA 2,06 NA 3,42 NA 1,72 1,82
Despesas R$ (mil) 215 35,8 478 45,2 115 25,4 96,8
Receita R$ (mil) 597 73,3 1,21** 97,7 261 62,4 56,5
Resultado de Caixa R$ (mil) 246 24,7 685 46,6 11,1 -19,1 -66,3
Custo operacional total R$/cab/ano 227 276 265 329 195 215 227
Custo operacional total R$/arroba NA 48,9 NA 53,4 NA 44,6 NA
Margem bruta* - R$/ hectare 602 1,07*** 1,14*** 1,32*** 173 835 -147
Preço médio de venda R$/arroba 90,9 91,7 93,7 97,0 87,6 85,8 82,3
O aumento de produtividade decorre da adubação de manutenção das pastagens (34 kg de potássio e 110 kg de nitrogênio por hectare) e rodízio dos animais nos piquetes (oito piquetes por módulo de URT). O mínimo de lotação e produção na URT, de 2,43 UA/ha e 17,67 arrobas/ha, foram superiores à média da região de Alta Floresta, que é de 1,12 UA/ha e 4,7 arrobas/ha/ano. O valor máximo encontrado, de 3,10 UA/ha e 27,34 arrobas/ha para o primeiro ano de implantação, demonstra a capacidade da tecnologia de manejo intensivo de pastagens para aumentar a produtividade.
Com isso ocorre maior margem de lucro (por hectare), variando de R$/ha/ano 835 a 1.326, com uma média de R$1.074 na URT (Unidade de Referência Tecnológica), em comparação à média da fazenda de R$ 602/ha/ano. Ao comparar a média da Fazenda de baixa tecnologia que não adotou as boas práticas pecuárias (BPA), o resultado financeiro também é evidente, pois essa propriedade obteve prejuízo de R$ -147/ha/ano, demonstrando que investir pouco e ter baixo custeio (R$/bovino/ano) implicam até prejuízo.
Os resultados de fluxo de caixa das URT, em média, foram positivos, o que significa que após 18 meses de implantação da pastagem (prazo máximo), foi obtido o retorno, isto é, pagou-se todo o investimento e custeio da atividade com um resultado de R$ 24.686. A URT que obteve R$ -19.074 de resultado de caixa foi a propriedade que fez investimentos mais elevados em benfeitorias (cochos, área de lazer e caixa d´água), cujos investimentos deverão retornar após dois anos de sua implantação.
As médias de margem bruta (R$/hectare/ano) URT e de fazendas, R$ 1.074 e 602 por ano, são superiores aos dados encontrados nos sistemas de produção da pecuária brasileira que, normalmente, não passam de R$ 200/ hectare/ano em sistemas mais extensivos. Esses resultados decorrem de maior taxa de lotação, ganho médio diário e peso de carcaça, frutos do processo de intensificação, gestão administrativa, treinamento de recursos humanos e adoção de BPA, como também das boas condições climáticas do norte do Mato Grosso.