A baixa eficiência reprodutiva das fêmeas observada na maioria dos rebanhos, seja pela tardia idade à primeira cria, seja pelo longo intervalo entre as parições sucessivas, é um dos fatores que mais limitam a produção de carne bovina em regiões tropicais. Uma das maneiras de se avaliar a eficiência reprodutiva é por meio das idades de puberdade e do primeiro parto, que refletem não só as diferenças genéticas entre os indivíduos, mas também as condições de manejo e alimentação durante o período de crescimento do animal antes do período reprodutivo propriamente dito.
Outro fator a ser considerado é a taxa de reconcepção dessa primípara (fêmea que pariu ou vai parir pela primeira vez), pois de nada adianta antecipar a idade à puberdade se, posteriormente, a próxima taxa de prenhez for baixa. Fatores relacionados à nutrição – oferta em qualidade e quantidade e técnicas de manejo reprodutivo―desmame temporário ou precoce, protocolos hormonais, massagem uterina, etc.― são imprescindíveis para o reestabelecimento da atividade ovariana e uterina para a nova concepção.
A idade da puberdade tem impacto sobre a eficiência reprodutiva, produtiva e econômica. A idade da puberdade da novilha varia conforme o manejo e as condições edafoclimáticas da fazenda, sendo influenciada pela raça, peso e escore corporal, habilidade materna de sua mãe, manejo nutricional pós-desmama, qualidade e quantidade de forragem, nível de suplementação (volumosa e ou concentrada) e sanidade, entre outros. Em animais Zebuínos, a idade da puberdade é bem variável (16 a 40 meses), assim como a idade da primeira parição (24 a 62 meses), embora seja possível, através da nutrição, conseguir antecipação na maturidade sexual de novilhas zebuínas. O desenvolvimento da novilha depende diretamente de um adequado programa nutricional para que esse animal possa expressar a sua genética, pois a deficiência múltipla―energia, proteína, minerais e vitaminas―leva à subnutrição com queda do ganho médio diário e menor peso, além do atraso na idade da puberdade.
Sendo assim, o nível energético da dieta é o principal fator nutricional que afeta o desempenho reprodutivo. As necessidades energéticas de vacas de cria podem ser divididas, em ordem prioritária, da seguinte forma: manutenção, lactação, ganho de peso e condição corporal, reprodução. Em outras palavras, se a vaca for mantida em um nível nutricional que permita apenas a manutenção, o reflexo primário será a inibição da atividade reprodutiva. Além da energia, outros nutrientes, como proteína, minerais e vitaminas, são importantes. Em algumas ocasiões, apenas os desequilíbrios de microelementos e vitaminas podem ser responsáveis pelo baixo desempenho reprodutivo.
O aumento no consumo de nutrientes, principalmente energia, tem resultado em maior ganho de peso, escore e peso corporal, taxa de prenhez, e redução da idade da puberdade. A maior ingestão de nutrientes está relacionada com o aumento das concentrações de LH, IGF-I e diminuição do hormônio de crescimento (GH). A suplementação de nutrientes limitantes em momentos cruciais permite uma eficiente utilização da forragem pelas vacas em pastejo, de forma a permitir que apresentem condições metabólicas e endócrinas para se reproduzirem normalmente. A proteína, em ambientes tropicais, é o nutriente mais limitante para animais consumindo forragem, pois sua deficiência acarreta em consumo inadequado de energia. Dessa forma, a suplementação proteica pode auxiliar a atividade reprodutiva de vacas e novilhas. Diversos estudos têm demonstrado que a suplementação com proteína, especialmente de PNDR (proteína não degradável no rúmen) pode acarretar melhorias no desempenho reprodutivo, estando associada também à diminuição do anestro e de perda de peso, que ocorrem normalmente após o parto.
Na região do Pantanal brasileiro, um estudo observou que a oferta de suplementos proteicos para as vacas de corte no terço final da gestação e início da amamentação não influenciou o peso no nascimento e no desmame dos bezerros, mas aumentou significativamente o ganho de peso e a taxa de prenhez das vacas paridas que eram mantidas em pastagens nativas. Portanto, a suplementação com proteína antes da estação de monta pode resultar em melhorias nos índices reprodutivos do rebanho de vacas e novilhas.
Diversas pesquisas têm demonstrado que os animais que são suplementados após o desmame antecipam a puberdade, existindo assim uma correlação positiva (coeficiente de 0,67) entre o peso corporal e a idade a puberdade. O sucesso de um programa reprodutivo de vacas tem início com o planejamento nutricional adequado das novilhas, pois essa categoria deve alcançar cerca de 65% do seu peso adulto no início da primeira estação de acasalamento, e as novilhas devem parir com cerca de 85% de seu peso, quando adultas. Essas novilhas devem receber suplementação adequada durante o inverno e outono para suprir sua manutenção, crescimento, lactação e reprodução, além de parir em boas condições corporais.
Para demonstrar o efeito da nutrição no peso corporal e na taxa de prenhez de novilhas zebuínas precoces, foi realizado um trabalho de pesquisa, no estado de São Paulo, com novilhas Nelore cobertas aos 17/18 meses. Naquele momento, foram avaliadas diferentes suplementações (dieta líquida, mistura múltipla, mineral convencional e milheto) a pasto na primeira seca dessas novilhas. Na época das águas, todas as novilhas permaneceram em pastagens de Mombaça. As novilhas que tiveram maior peso e escore corporal na entrada da estação de monta obtiveram melhores resultados de prenhez, variando de 14% a 24%. Esses resultados de prenhez mais baixos relacionam-se à genética zebuína que, normalmente, entra em reprodução aos 24-36 meses de idade. O peso mais elevado na desmama e o maior ganho de peso pós-desmama do cruzamento Bos indicus x Bos taurus devido à heterose (hibridez), aliado à maior precocidade genética proveniente dos genes dos Bos taurus permite obter taxas de prenhes mais elevadas nesses grupos genéticos.
As novilhas provenientes de cruzamentos Bos indicus x Bos taurus e Bos indicus x Bos indicus podem chegar à concepção aos 14-16 meses de idade, com uso de suplemento múltiplo (consumo médio de 0,5% do peso vivo ao dia) após a desmama em pastagens de braquiária, reduzindo, assim, sua idade no primeiro parto (ver tabela). A superioridade do grupo genético Bos indicus x Bos taurus, tanto para maior GMD (ganho médio diário) quanto para taxa de gestação, se deve ao efeito de heterose e da possibilidade de complementaridade entre as raças.
Desempenho de novilhas prenhas e falhadas aos 17/18 meses de idade durante o período experimental em relação ao peso vivo, ganho médio diário, idade ao início do acasalamento, condição corporal e escores visuais de conformação, precocidade e musculosidade ao sobreano
* Médias diferentes estatisticamente (P<0,05).** Médias diferentes estatisticamente (P<0,01).
Parâmetros Prenha Vazia
Peso Vivo kg
Desmama 187 177**
Início da Monta 275 258**
Final da Monta 306 289**
Condição Corporal (1 5)
Início da Monta 3,9 3,81**
Final da Monta 4,12 4,01**
Ganho médio diário kg
Nascimento até a monta 0,48 0,46**
Idade à Monta dias 511 497**
As novilhas mais pesadas na entrada e no final da estação de monta obtiveram maior taxa de prenhez. A utilização de suplementação concentrada com ingestão média de 1% do peso vivo promoveu antecipação da idade da puberdade de fêmeas Nelore em pastagens de Brachiaria decumbens, sendo suficiente para promover um maior ganho de peso e condição corporal das fêmeas em recria submetidas à estação de monta curta (60 dias) aos 15 meses de idade e maior taxa de prenhez (ver tabela).
Peso médio (PM) (kg) e condição corporal (CC) (escala 1-9) de novilhas Nelores à desmama, no início e ao fim da estação de monta (EM) e taxa de prenhez em função de três regimes alimentares
Letras diferentes, na mesma coluna, diferem entre si (P<0,001).
Tratamento
1Desmama
(mai/03)Início da EM
(jan/04)Fim da EM
(mar/04)Taxa de Prenhes
PM CC PM CC PM CC %
Sal Mineral 188 5,43 257a 5,19a 282a 5,20a 6,98a
Sal Protéico 188 5,4 260a 5,37a 296b 5,50b 16,3a
Ração 188 5,42 286b 5,88b 320c 6,80c 44,2b
As diferenças genéticas, nutricionais e ambientais são identificadas como fatores significativos que influenciam a idade da puberdade entre Bos indicus e Bos taurus (ver tabela). Rebanhos brasileiros, em sistemas de produção a pasto e que trabalham sob pressão de seleção para precocidade têm conseguido taxas de prenhez de novilhas Nelore aos 14-16 meses de idade, que podem chegar a 40%. O desmame precoce de novilhas Zebu (aos 3 meses de idade) e a suplementação com concentrado para elevar o ganho e o peso corporal resultaram em idade de puberdade de 12,3 meses e peso de 233 kg (51). Como resultado, a precocidade de animais zebuínos pode ser antecipada com manejo nutricional e pressão de seleção.
Influência do grupo genético no ganho de peso e desempenho reprodutivo de novilhas de corte precoces aos 14 meses de idade.
Guzerá | Guzerá x Nelore | Angus Nelore | |
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Peso desmama kg | 179b | 172b | 194ª |
Peso final da seca kg | 217b | 216b | 261ª |
GMD kg | 0,27c | 0,31b | 0,47ª |
Peso inicial na EM kg | 253b | 255b | 305ª |
Peso Final na EM kg | 317b | 322b | 373ª |
Taxa de prenhes - % | 9,67c | 29,0b | 77,4ª |
Nessa linha, a busca pelas bezerras mais pesadas à desmama é fundamental para a seleção da precocidade. Ao analisar a distribuição dos nascimentos e o peso da desmama das bezerras dentro da estação de monta e, posteriormente, o peso dessa novilha no início e no final da sua estação de monta, observa-se que os animais mais precoces são os que nasceram primeiro na estação de monta, ou seja, filhos de vacas que ciclaram mais cedo. Sendo assim, recomenda-se que as vacas, na estação de monta, tenham manejo adequado para ciclar o mais rápido possível.
Com a pressão de seleção buscando a precocidade nos rebanhos zebuínos, a idade ao primeiro parto deve diminuir. Entretanto, devemos lembrar que o maior peso (mínimo de 65% do peso adulto – 300 a 330 kg) e escore corporal na entrada da monta são fundamentais para elevar as taxas de prenhes alcançadas. Sendo assim, o ganho de peso dessas novilhas deverá ser de 0,670 kg/dia do nascimento até o início da monta, aos 14 meses. O descarte de bezerras leves à desmama e no final da seca (setembro-outubro) ajuda na seleção e aumento dos índices de prenhez.