Investimentos necessários na pecuária bovina de corte para o alcance das metas dos cenários modelados para os estados da Amazônia são baseados no estudo de caso das fazendas do Projeto de Pecuária Integrada de Baixo Carbono do Instituto Centro de Vida. Como linha de base, foram usados os indicadores zootécnicos médios para a Amazônia em 2013 (ver tabela). Como tecnologias necessárias para aumentar a produtividade de um sistema de produção de ciclo completo de bovinocultura de corte foram considerados investimentos e custeio em manejo de pastagens (formação, manutenção, adubação) e suplementação nutricional estratégica (suplementos minerais, proteicos, rações concentradas e volumoso). Também se incluem como técnicas necessárias os manejos reprodutivo e sanitário, o melhoramento genético, a gestão administrativa e o treinamento de mão obra.
Indicadores técnicos no sistema de produção de ciclo completo de bovinos de corte no cenário atual e Inovador
Atual Inovador
Taxa de natalidade - % 75 80
Taxa de mortalidade até desmama - % 4,00 2,00
Taxa de mortalidade 1 a 2 anos - % 1,00 0,50
Taxa de mortalidade rebanho adulto - % 0,50 0,50
Idade ao abate dos machos meses 42 24
Peso ao abate dos machos kg 540 580
Época de abate março a maio julho a setembro
Preço de venda ao abate R$/arroba boi gordo 115 131
Peso ao abate de novilhas kg 360 420
Preço de venda ao abate R$/arroba novilha 105 112
Taxa de lotação UA/ha 0,80 1,60
Arrobas produzidas / ha 4,00 8,40
Usando divisão fundiária do IBGE[i], utilizou-se a escala de produção de acordo com propriedades rurais com tamanhos totais médios de até 350, e em média de 750, 1750 e 3500 ha. De acordo com a divisão do IBGE, esses tamanhos médios correspondem a faixas de tamanho de 0 a 500, 500 a 1000, 1500 a 2500 e acima de 2500, respectivamente. Para cada tamanho de propriedade, foram considerados 50% do seu tamanho como extensão de pastagens efetivas, ou seja, 375, 875 e 1.750 ha, tendo em vista que o Código Florestal estipula a recuperação do passivo ambiental em até 50% da propriedade (maiores que 4 módulos rurais) no bioma da Amazônia em áreas tidas como consolidadas pelo zoneamento ecológico econômico. Propriedades menores do que 750 ha não foram consideradas nesta análise, posto que apresentam viabilidade limitada do ponto de vista de escala de produção.
Para cada escala de produção, foi simulada a rentabilidade por um período de 10 anos. Com isso foram calculados o valor presente líquido (VPL) usando uma taxa de desconto de 6% ao ano, a taxa interna de retorno (TIR) e a margem líquida por hectare, subtraindo-se da receita total os desembolsos e a depreciação de bens divididos pelos hectares efetivos. No cálculo do VPL e TIR, foram considerados todos os recursos necessários para a produção, ou seja, desembolsos financeiros (insumos de produção e despesas fixas), compra de rebanho, benfeitorias, máquinas e equipamentos de melhoria e manutenção de pastagens. Não foi considerado o preço de terra nesses resultados, pois a terra é valorada como um bem imobiliário.
As simulações incluem o uso adequado das pastagens, reforma de pastos degradados e adubação de manutenção anual, além do confinamento e semiconfinamento como principais estratégias nutricionais para aumentar a produtividade e o resultado financeiro. Para a reforma de pastagem (correção e adubação) e divisão de área com cerca elétrica, bebedouros e cochos se considera o valor de R$ 2.068/ha. Já para manutenção anual (adubos) das pastagens se considera o valor de R$ 557/ha. Para cada fazenda, são reformados e adubados 9,2% da área de pastagem para cada escala de produção. O restante das pastagens passa então a receber manutenções (herbicidas, principalmente), visando manter a capacidade de suporte durante os 10 anos. O valor médio de alimentação para animais confinados é de R$ 319/bovino por ciclo de 90 dias.
Os investimentos em reforma de pastagens e na adequação da propriedade para adotar melhores práticas de manejo visam o aumento das margens de lucro (VPL e TIR), tornando a atividade mais competitiva com outros usos da terra (ver tabela). Nesse aspecto, a escala de produção tem papel fundamental por diluir custos fixos e otimizar processos produtivos. Em efeito, a maior escala de produção (3.500 hectares) apresenta os melhores indicadores econômicos.
Indicadores econômicos do sistema de produção de ciclo completo de bovinos de corte no cenário atual e inovador de acordo com o total de hectares
*milhões.
750 hectares 1.750 hectares 3.500 hectares
Atual Inovador Atual Inovador Atual Inovador
VPL R$ (mil) -66,2 520 33,3 2,04* 1,10* 5,70*
TIR - % 4,4 15,7 6,3 21,9 12,4 31,6
Margem líquida R$/hectare 131 400 199 568 255 651
Tendo como base os valores de reforma e manutenção de pastagens e a proporção em extensão de propriedades acima de 500 ha nos estados da Amazônia, estima-se que sejam necessários R$ 7,4 bilhões de reais para reformar 3,6 milhões hectares a cada 10 anos (ver tabela). Incluem-se ainda, como custeio, R$ 2 bilhões anuais para manter a adubação anual dessas pastagens intensificadas e uma lotação média de 2,5 UA/hectare/ano (ver tabela). Os valores anuais em reforma e manutenção dos módulos intensivos de pastagens serão de R$ 2,74 bilhões de reais/ano. Esses valores, portanto, estão compatíveis ou até menores que os investimentos anuais brasileiros na cadeia produtiva da pecuária.
Total de hectares (ha) de pastagens nos estados da Amazônia divididos conforme a estrutura fundiária (em milhões)
até 350 hectares até 750 ha até 1750 ha acima de 1751 ha Total ha
Rondônia - ha 3,27 0,55 0,82 0,57 5,21
Acre - ha 0,75 0,19 0,15 0,18 1,3
Amazonas - ha 0,53 0,11 0,16 0,2 1,02
Roraima - ha 0,36 0,05 0,08 0,08 0,59
Pará - ha 7,72 1,73 2,74 3,75 15,9
Amapá - ha 0,05 0,01 0,02 0,03 0,13
Tocantins - ha 2,94 1,25 2,03 2,08 8,29
Maranhão - ha 5,35 1,1 1,39 1,18 9,03
Mato Grosso - ha 6,24 2,78 6,04 9,7 24,8
Total 27,2 7,8 13,5 17,8 66,3
Necessidade de investimento (R$) em reforma de pastagem e adubação de manutenção anual conforme o total de hectares
*bilhões.
Hectares 750 1.750 3.500 Total
Reforma pasto - R$/ hectare (mil) 2,06 2,06 2,06
Bilhões de R$ 1,72 2,77 2,94 7,43
Insumos (milhões R$) 653 1,05 1,11* 2,82*
Benfeitorias (milhões R$) 399 642 682 1,72*
Máquinas e operações (milhões R$) 667 1,07* 1,14* 2,88*
Manutenção Adubação - R$/ha 556 556 556
Bilhões de R$ 0,46 0,74 0,79 2
Insumos (milhões R$) 300 478 508 1,28*
Máquinas e operações (milhões R$) 166 267 285 719
% de reformas 10,7 9,94 8
Total de hectares (milhões) 0,83 1,33 1,42 3,59
Além disso, serão necessários investimentos anuais na ordem de R$ 49,5 bilhões (R$ 400,00/boi instalado, considerando 2 giros de bovinos confinados) para expansão de sistemas de confinamento visando alcançar a meta de 6,1 milhões de bovinos confinados (4,7 milhões de bovinos a mais que em 2012) nos estados do Amazônia, como projetado pelo cenário inovador para 2031.
Para alimentação de 9,3 milhões de bovinos confinados e semiconfinados serão necessários R$ 2,96 bilhões ao ano de 2031, considerando o custeio de R$ 319/bovino suplementado durante a época da seca. Isto significa uma demanda anual de 2,7 milhões de toneladas de milho e 0,6 milhões de toneladas de farelo de soja em 2031.
Como resultado, a implantação de novas tecnologias nos sistemas de bovinocultura de corte, como o manejo de pasto, suplementação alimentar (semiconfinamento e confinamento), aliada a um planejamento estratégico, tanto técnico quanto econômico, pode levar o produtor rural a alcançar a eficiência produtiva com a obtenção de produtos de qualidade, aumentando sua margem de lucro. Não obstante, investimentos nesse sentido devem ser dosados de acordo com as particularidades de cada região, perfil do produtor e objetivo da produção. As gestões administrativa e financeira, com conhecimento do custo de produção e resultados econômicos, são condições necessárias para o sucesso na atividade.