Até a década de setenta, a pecuária utilizava predominantemente pastagens de capim-gordura (Melinis minutiflora), colonião e guiné (Panicum maximum), jaraguá (Hyparrhenia rufa) e angola (Brachiaria mutica). Na década de setenta, teve início o ciclo das braquiárias, destacando-se a B. decumbens, a B. ruziziensis e a B. humidicula, especialmente nas regiões do Cerrado e na região amazônica. Sua implantação nas áreas do Cerrado proporcionou aumentos de 5 a 10 vezes na taxa de lotação, comparadas às pastagens anteriormente existente.

A partir da década de 80, outras forrageiras foram introduzidas nas regiões do Cerrado e na Amazônia, destacando-se, por sua grande expansão, a Brachiaria brizantha, cultivar Marandu, forrageira resistente à cigarrinha das pastagens e, em menor escala, o capim andropogon (Andropogon gayanus), cultivar Planaltina e Baeti.

Mesmo com a introdução de novas gramíneas, as pastagens brasileiras estão aquém de suas reais potencialidades. A capacidade de suporte das pastagens é bastante variável em função do solo, clima, estação do ano, espécie ou cultivar da forrageira e do manejo aplicado. O desempenho animal necessário ou desejado e o sistema de produção adotado têm também efeito marcante sobre a capacidade de suporte da pastagem.

Os principais problemas na produtividade das pastagens são a ausência e o uso inadequado de correção e adubação de manutenção, além do manejo inadequado das espécies forrageiras, desrespeitando os períodos de pastejo e descanso corretos. O resultado é a queda acentuada da capacidade de suporte e do ganho de peso animal após três ou quatro anos da formação da pastagem.

Em efeito, a degradação das pastagens é um dos maiores problemas da pecuária brasileira e tem influência direta na sustentabilidade do sistema produtivo. Considerando a fase de recria e engorda de bovinos, a produtividade de carne de uma pastagem degradada está em torno de 2 arrobas/ha/ano, enquanto em uma pastagem em bom estado ela pode atingir, em média, 16 arrobas/ha/ano.

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Correção e Adubação dos Solos para Produção de Forragem

Várias pesquisas analisaram a recuperação de pastagens com aplicação de calcário, fósforo e potássio durante a formação, mas sem adubação de manutenção (ver tabela). Pesquisas realizadas no Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte da Embrapa indicam que é possível manter uma capacidade de suporte de até 1,4 unidade animal (UA) por hectare na seca ao se utilizar adubação de manutenção a cada três anos.

Médias das taxas de lotação, ganhos por animal e por área em pastagens com diferentes espécies forrageiras sob diferentes correções e adubações no primeiro ano (estabelecimento)

 PastagemClas se de SoloAdubação estabeleci mento ton/haTaxa de lotação UA/haGanho de peso vivo Referências
g/animal/diakg/ha/ano
Andropógon MaranduLVSem1,10370142Nunes (1980)
0,70450148
Andropógon MaranduLV2 calcário1,10500310Andrade (1986)
0,5 supersimples1,10390242
0,1 cloreto potássio
0,040 micro
MaranduLVSem1,40357290Bianchin (1991)
1,80273320
DecumbensLV1 calcário1,40380345Euclides et al. (1993)
Marandu0,35 supersimples1,30395345
Colonião100 cloreto potássio1,20420325
Tobiatã0,040 micro1,40450415
Tanzânia1,30520445
BraquiáriaLA1,5 calcário, 100 kg de P2O5, 40 kg de K2O, 100 kg de N2,00771Vilela (1981)
LV = latossolo vermelho, LD = latossolo distrófico, LA = latossolo amarelo.

Manejo e Rotação dos Bovinos nas Pastagens

Os diferentes métodos de manejo dos bovinos nas pastagens podem ser agrupados em três sistemas: contínuo, rotacionado e diferido. As opiniões sobre qual é o melhor sistema de utilização são muitas e divergentes, principalmente com relação às alternativas de pastejo contínuo e rotacionado. Diversos estudos têm mostrado efeito significativo da pressão de pastejo sobre o desempenho animal, independentemente do sistema de pastejo utilizado. Um elemento comum nesses experimentos tem sido a interação entre a taxa de lotação e o sistema de pastejo. Com taxas de lotação de leve a moderada, o desempenho animal em pastejo contínuo pode ser igual ou maior do que o obtido em pastejo rotacionado. Por outro lado, o pastejo em manejo rotacionado favorece o desempenho animal por área e não individual, em pastagens onde são utilizadas taxas de lotação mais altas. Como exemplo, podemos citar a produtividade de B. brizantha cv. Marandu que, quando sob pastejo em manejo rotacionado e adubação nitrogenada, foi 50% maior do que aquela obtida em sistema de pastejo contínuo sem aplicação de nitrogênio. Da mesma forma, acréscimos de 75% e 100% foram observados em pastagens de P. maximum cv. Tanzânia submetidas a pastejo de animais em rotação e adubação nitrogenada de 50 kg e 100 kg de nitrogênio/hectare/ano em relação às pastagens da cv. Tanzânia, em pastejo contínuo e sem o uso de fertilização nitrogenada.

A título de ilustração, o ganho de peso por área em sistemas de pastejo com manejo rotacionado e adubado pode chegar de 620 a 820 kg/ha/ano em forrageiras do gênero Panicum sp., com rotação de 7 períodos de 35 dias, sendo maiores do que os ganhos observados em áreas de pastejo contínuo, que variaram de 140 a 450 kg/ha/ano (ver tabela).

 

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Médias das taxas de lotação, dos ganhos de peso por animal e por área em pastagens de Panicum maximum cvs. Tanzânia, Mombaça e Massai

 Taxa de lotação UA/ha Ganho de peso g/animal/dia Ganho PV kg/ha/ano
SecaÁguasSecaÁguas
Mombaça + 50 N1,003,00130570700
Massai + 50 N1,103,2010400620
Tanzânia + 50 N1,002,90140615725
Tanzânia + 100 N1,103,20125635820

A introdução de tecnologias de manejo de pastagens (reforma e adubação) e suplementação alimentar em fazendas no bioma amazônico do Projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono (Instituto Centro de Vida) produziu aumento em até 27 arrobas/hectare (810 kg de Peso Vivo/hectare) nas áreas intensificadas. A reforma da pastagem degradada foi em média de 34,92 hectares por fazenda (6,44 % da área total de pastagem efetiva), com um custo médio de implantação de R$ 2.067,89 (valor de 2014) por hectare (pastagens, cerca elétrica, cochos, bebedouros, caixa d´água). Essa área foi denominada Unidade de Referência Tecnológica (URT). Na URT foram colocadas as categorias de recria de bovinos de corte. Ao comparar com a fazenda de baixa tecnologia, nota-se que, na média, todos os indicadores avaliados (taxa de prenhez, mortalidade, lotação e produção de arrobas) foram superiores nas fazendas que utilizaram as tecnologias preconizadas pelo Sistema de Pecuária Integrada de Baixo Carbono (ver tabela).

Índices zootécnicos do Projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono (PIBC), Instituto Centro de Vida, obtidos no período de abril/13 a março /14

 Inte
grada (PIBC)
 Inte
grada (PIBC)
 Inte
grada (PIBC)
 Baixa tecnologia
MédiaMáximoMínimo
FazendaURTFazendaURTFazendaURTFazenda
Número de Cabeças1,15*1393,15*154338136526
Taxa de prenhez (%)85,3NA91,0NA80,0NA57,0
Arrobas produzidas/hectare12,121,615,627,37,417,76,70
Lotação (UA/hectare)1,652,761,923,101,202,431,39
NA – não aplica. *milhares

Ao comparar a URT com a média de cada fazenda, observa-se maior lotação e produção de arrobas, resultado da adubação de manutenção das pastagens (34 kg de potássio e 110 kg de nitrogênio por hectare) e do rodízio dos animais nos piquetes (oito piquetes por módulo de URT). O mínimo de lotação e produção na URT de 2,43 UA/ha e 17,67 arrobas/ha/ano foram superiores à média da região de Alta Floresta-MT, que é de 1,12 UA/ha e 4,7 arrobas/ha/ano. Enfim, o valor máximo encontrado de 3,10 UA/ha e 27,34 arrobas/ha/ano para o primeiro ano de implantação e monitoramento demonstra a capacidade da tecnologia de manejo intensivo de pastagens no aumento da produtividade.

Irrigação de Pastagens

A irrigação de pastagens é uma estratégia que pode proporcionar crescimento da forragem quando há limitação por déficit hídrico e quando as condições de solo, temperatura (máxima e mínima), luminosidade (qualidade e quantidade), nível de adubação e correção estiverem adequadas. A espécie forrageira a ser implantada deve ter alta resposta de crescimento (produção) quando adubada, boa capacidade de rebrota e bom valor nutritivo e de consumo, além de alta produção por área durante o ano. As espécies mais utilizadas são Panicum   sp. (Tanzânia e Mombaça), Brachiaria sp. (Marandú e Xaraés), Cynodon sp. (Tifton e Coast cross) e Pennisetum sp. (Elefante). Todas essas espécies possuem vantagens e desvantagens associadas e devem ser escolhidas em função do tamanho da área a ser formada, tipo de solo, nível de adubação, localidade geográfica (latitude), produtividade e custo de implantação.

O potencial de produção animal em pastagens irrigadas pode ser bem maior do o obtido de fazendas médias, extensivas melhoradas e intensivas (ver tabela). Cabe ressaltar, porém, que o uso de irrigação vai se tonar cada vez mais problemático diante de um cenário de mudanças climáticas e com crises hídricas mais frequentes.

Valores de produtividade – UA/ha, animal/ha, kg de peso vivo (PV)/ha/ano – e ganho médio diário (GMD), em diferentes tecnologias nos sistemas de produção de bovinos em recria e engorda, em pastagens no Brasil

TecnologiasUA/haAnimal/haGMD - kgKg PV/ha/ano
Pastagem degradada0,50,650,3584,0
Fazenda média0,70,950,37129
Extensiva melhorada1,001,300,41195
Adubação uma ou duas vezes/ano e/ou consorciada1,501,900,50345
Fazenda intensiva3,004,000,55810
Fazenda intensiva com irrigação6,307,600,601,65*
Fazenda irrigada potencial estimado7,509,750,602,13*
*milhares.