O rebanho, produção de carne, consumo interno e as exportações aumentaram nos últimos anos, apesar do consumo per capita ter estabilizado com ligeira queda no ano de 2013 (ver tabela). Há uma perspectiva de aumento do consumo mundial em 1,5% ao ano, podendo atingir até 76 milhões de toneladas em 2022 (ver figura). Por sua vez, o consumo interno acompanha o crescimento da renda per capta (ver figura). A esse respeito, projeções otimistas apontam para um contínuo aumento do consumo anual per capita de carne bovina (atualmente de 36 Kg, chegando a 59 Kg em 2030, o que refletirá diretamente no crescimento do mercado da carne. Com essa perspectiva, as exportações brasileiras devem continuar aumentando, a médio prazo, em virtude do aumento de consumo de carne bovina em países onde a demanda estava reprimida (países asiáticos e Rússia, por exemplo).
Balanço da pecuária bovina de corte no Brasil
2005 | 2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014¹ | |
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Rebanho bovino (milhões) | 207 | 206 | 200 | 205 | 206 | 211 | 216 | 213 | 211 | 199 |
Taxa de abate total (%) | 25,3 | 27,4 | 25,1 | 23,2 | 23,1 | 23,5 | 21,3 | 22,0 | 22,0 | 21,8 |
Abate (milhões) | 52,4 | 56,4 | 50,1 | 46,9 | 47,5 | 49,2 | 45,3 | 46,6 | 46,5 | 43,3 |
Taxa de abate de matrizes (%) | 46,8 | 48,5 | 48,1 | 45,4 | 48,2 | 48,2 | 49,3 | 48,3 | 46,6 | 47,6 |
Produção de carne* | 10,5 | 10,6 | 9,30 | 8,80 | 9,00 | 9,30 | 8,70 | 8,90 | 9,10 | 8,52 |
Consumo interno* | 6,33 | 6,47 | 5,64 | 5,62 | 6,04 | 6,26 | 6,14 | 6,57 | 6,59 | 6,48 |
Consumo per capita** | 35,0 | 36,0 | 31,0 | 30,0 | 32,0 | 33,0 | 31,7 | 33,5 | 33,0 | 32,0 |
Expor tação* | 1,86 | 2,10 | 2,20 | 1,83 | 1,61 | 1,55 | 1,32 | 1,50 | 1,80 | 2,10 |
Impor tação* | 43,0 | 25,0 | 26,0 | 24,0 | 30,0 | 30,0 | 35,0 | 55,0 | 53,0 | 62,0 |
Esses números reforçam a necessidade de aumento da produtividade no setor para que se atinja uma maior produção com a mesma ou menor área de pastagem, haja vista que os mercados nacional e internacional estão à procura de produtos produzidos de acordo com os conceitos de bom manejo ambiental, bem-estar animal, certificação de origem e responsabilidade social. São esses, portanto, os novos desafios do produtor, que cada vez mais vai precisar adotar normas de boas práticas de produção, em conjunto com uma melhor gestão ambiental.
Ademais, o crescente mercado exportador demanda que medidas de controle, combate e/ou erradicação de doenças como febre aftosa, encefalopatia espongiforme bovina, brucelose e tuberculose sejam efetivas e imediatas, para que não se tornem um problema político e econômico para a exportação da carne bovina brasileira.
A eminente abertura do mercado norte-americano à carne bovina in natura oriunda de quatorze estados brasileiros já certificados como livres de aftosa (Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Sergipe e Tocantins), revela um grande potencial de crescimento da pecuária de corte no país. Estima-se que inicialmente serão exportadas 40 mil toneladas/ano, o que não é uma quantia expressiva, mas que oferece uma oportunidade ao país, visto que o Brasil não tem acesso a outros mercados importantes, como Japão e Coréia do Sul, devido a questões sanitárias e de exigência em qualidade do produto.
Para tanto é fundamental existir harmonia entre os setores primários (oferecer produtos com qualidade, certificados e com escala), setor de processamento (pagar de forma justa a qualidade) e setor de exportação (buscar informações da necessidade do mercado internacional). Pesquisas de consumo realizadas em supermercados indicam que os fatores relacionados à qualidade e certificação são atributos importantes na carne bovina. Consumidores estão dispostos a pagar de 5% a 10% a mais por um produto com certificação de origem caso a oferta seja constante.
Como resultado, a busca por marcas certificadas (selos de origem) tem conseguido seu espaço nos mercados interno e externo, com diferencial de preço por arroba, principalmente para carnes produzidas pelos machos e fêmeas precoces. Alianças mercadológicas com produtores, associações de raças, supermercados, churrascarias e restaurantes já são uma realidade no Brasil, nos exemplos da Conexão Angus/Marfrig, Pão de Açúcar/Rubia Gallega, Montana/Marfrig, Zaffari/Marfrig, Angus/McDonald, Angus/Giraffa’s.
Para atender ao crescente volume de cortes especiais de carne cobiçados pelo consumidor, há necessidade de conhecimento e atuação sistemática sobre os fatores que influenciam a qualidade das carcaças e, consequentemente, da carne, para que o Brasil se torne mais competitivo e passe a oferecer produtos mais homogêneos e que atendam às exigências dos frigoríficos e as necessidades do consumidor. Animais jovens são biologicamente mais eficientes e convertem melhor os alimentos em ganho de peso. Nesse enfoque, a redução de idade de abate nada mais é do que uma busca pela eficiência do sistema (pasto e confinamento) e do atendimento das exigências de carcaças de qualidade com cobertura adequada de gordura, uma vez que a transformação dos alimentos consumidos em ganho de peso decresce com o aumento da idade do animal, o que pode resultar em gordura excessiva na carcaça. O abate de animais com excesso de deposição de gordura não é interessante para o frigorífico, pois diminui o rendimento de cortes cárneos e aumenta a quantidade de aparas.
Devido à versatilidade da produção brasileira de bovinos tropicais com criação a pasto, suplementação nutricional estratégica ou em confinamento, e ainda à variação genética (Bos taurus, Bos indicus e seus cruzamentos), é possível atender diferentes nichos de mercados (interno e externo), tanto para animal de carne magra (pouco acúmulo de gordura na carcaça) produzido em pastagens com suplementação nutricional, como para animal com maior acabamento (gordura) de carcaça e com marmoreio, produzido em confinamentos. Em ambas as estratégias, a condição necessária é a idade precoce de abate até os 24 meses de idade, para que se obtenha uma carne mais macia.
Conforme o local de deposição de gordura na carcaça, esta se classifica em gordura externa (subcutânea), interna (envolvendo órgão e vísceras), intermuscular (ao redor dos músculos) e intramuscular (marmoreio, entre as fibras musculares). O marmoreio está relacionado às características sensoriais da carne, que podem ser percebidas pelo consumidor, já que garante a sensação de suculência e maciez da carne durante a mastigação.