Nossas projeções focam na pecuária de corte, pois a produção de leite nos estados da Amazônia está fortemente associada à agricultura familiar praticada nos assentamentos rurais. A constituição de bacias leiteiras nessa região advém, desse modo, de ações governamentais orientadas à ocupação do espaço territorial. A pecuária leiteira Amazônica, em geral, não é especializada, possuindo uma produção média de leite que não ultrapassa 3,5 litros/vaca/dia. Seu rebanho representa apenas 10,2% do rebanho bovino total na região. Além disso, o número de fêmeas destinadas à produção de leite constitui 11% do total de fêmeas bovinas na região. Logo, a produção de bovinos de corte representa a maior parte da renda gerada nos sistemas pecuários da Amazônia.

Além de dados integrados para a região da Amazônia, há estimativas para o Brasil como um todo e para cada um dos estados da região Amazônica em separado, a saber: Mato Grosso, Pará, Rondônia, Tocantins, Amazonas, Roraima, Amapá, Acre e Maranhão.  Os dados para a modelagem de cenários para pecuária foram obtidos de banco de dados estatísticos disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo Anuário da Pecuária Brasileira (ANUALPEC) e por outras fontes de pesquisa. Dados de pastagens resultam da integração de dados espaciais, por isso diferem significativamente de estimativas do IBGE.

Os dados do Anualpec 2014 foram utilizados nas projeções de crescimento do rebanho por categoria de idade. A partir daí, esses dados foram transformados usando a proporção entre Anualpec 2014 e os valores de rebanho total de cada estado e Brasil fornecidos pelo IBGE (Produção da Pecuária Municipal, 2013). As projeções foram feitas para um horizonte de 20 anos a partir de dados observados para os anos de 2010 e 2011. Já os referentes aos estados da Amazônia foram feitos a partir de dados observados para os anos 2011 e 2012 e projetados até 2031. As projeções assumiram três cenários:

O cenário tendencial (baseado na tendência histórica) assume uma taxa de crescimento de rebanho em 2,0% ao ano, inclusão de tecnologias e intensificação do sistema, diminuição da área de pastagens devido à expansão agrícola e recuperação de 30% do passivo ambiental segundo o novo código florestal, apesar da continuidade do desmatamento a uma taxa média anual equivalente à média dos últimos quatro anos (2011-2014). Como resultado desse processo aliado à mudança no uso da terra, as pastagens sob esse cenário no Brasil se reduziriam de 220 milhões de hectares (ha) para cerca de 210 milhões ha em 2030.

O cenário inovador assume uma expansão menor do rebanho de 1,05% ao ano, em consequência do aumento de produtividade por área. Ele inclui, de modo expressivo, o uso de tecnologias visando a intensificação da pecuária para possibilitar a expansão agrícola e a recuperação plena do passivo ambiental sem expansão de novas áreas, ou seja, com desmatamento tendendo a zero. Sob esse cenário, haveria uma forte redução de pastagens para cerca de 174 milhões ha. Esse cenário está consoante com as metas do Brasil de produção de mais carne, porém com um crescimento menor de rebanho devido aos fortes ganhos em produtividade.

Por sua vez, o cenário conservador assume um crescimento do rebanho de 1,7% ao ano, que é menor que o tendencial devido a prognósticos pessimistas da conjuntura econômica nacional. Em efeito, esse é um cenário a ser evitado, posto que há menor nível de intensificação do sistema, com baixa inclusão de tecnologias e participação nos abates ainda de animais acima de 4 anos, com menor qualidade de carne e carcaça oriundos de sistemas muito extensivos. Portanto, a menor taxa de lotação e capacidade de suporte demanda por mais uso de mais hectares de pastagens ― 218 milhões de hectares, indo contra os sistemas que são preconizados atualmente, mais sustentáveis economicamente e ambientalmente.

A taxa de crescimento do número de bovinos confinados no Brasil nos últimos 10 anos foi de 8,2% ao ano. A taxa de crescimento utilizada na projeção do cenário tendencial foi de 5,3% ao ano, já que é esperada uma diminuição deste valor (%) com o passar dos anos. Para o cenário inovador foi utilizada uma taxa próxima ao dos últimos 10 anos, de 7,3%, e para o cenário conservador, foi utilizada uma taxa de 1,8%.

Em alguns estados é possível notar uma grande variação dos dados estimados de número de animais dentro de uma mesma categoria entre os anos de 2010 a 2013, o que pode ser atribuído à importação de animais oriundos de outros estados. Para amenizar esse efeito de compra sobre o número total de cabeças do rebanho, todos os cálculos foram feitos com a premissa de que os animais seriam abatidos em seus estados de origem.

Os indicadores zootécnicos utilizados para as projeções variam de acordo com cada cenário, estado e tecnologia adotada para diminuir a idade do abate dos bovinos (Tabela 1). O cálculo do número de arrobas produzidas no ano é obtido pela diferença de estoque de arrobas entre anos consecutivos somado ao número de arrobas produzidas até o final do ano anterior. Dessa forma, os gráficos referentes a projeção de arrobas produzidas em cada estado têm início no ano de 2012, com o ano de 2011 sendo considerado o “ano 0”.  Para o cálculo de produção de carne em equivalente carcaça foi utilizado o fator fornecido pelo Anualpec 2014, sendo a arroba (@) produzida em equivalente carcaça igual a 41% da @ produzida em kg de peso vivo.

 

modelagem1

Indicadores zootécnicos usados na simulação da projeção de crescimento para o cenário Conservador, Tendencial e Inovador

Indicador zootécnicoTendencial e InovadorConservador
Taxa de natalidade média (Vaca + Novilhas)*48 a 78%48 a 76%
Taxa de mortalidade (acima de 1 ano)0,50%0,50%
Taxa de mortalidade (bezerros)3%3%
Peso médio das vacas450 kg420 kg
Peso médio das novilhas de 2 a 3 anos390 kg370 kg
Peso médio das novilhas de 1 a 2 anos290 kg290 kg
Peso médio das bezerras170 kg170 kg
Peso médio dos bois acima de 4 anos521 kg521 kg
Peso médio dos bois de 3 a 4 anos499 kg499 kg
Peso médio dos novilhos de 2 a 3 anos418 kg418 kg
Peso médio dos novilhos de 1 a 2 anos349 kg349 kg
Peso médio de abate dos bois acima de 4 anos590 kg590 kg
Peso médio de abate dos bois de 3 a 4 anos576 kg576 kg
Peso médio de abate dos novilhos de 2 a 3 anos559 kg559 kg
Peso médio de abate dos novilhos de 1 a 2 anos545 kg545 kg
Ganho de peso médio dos novilhos de 1 a 2 anos:(Kg/dia)(Kg/dia)
Sistema extensivo0,30,3
Sistema extensivo com suplementação0,850,85
Sistema semintensivo11
Sistema intensivo1,21,2
Ganho de peso médio dos novilhos acima de 2 anos:(Kg/dia)(Kg/dia)
Sistema extensivo0,30,3
Sistema extensivo com suplementação0,550,55
Sistema semintensivo0,70,7
Sistema intensivo11
* Variação da taxa de natalidade de acordo com cada estado.