O valor nutritivo e a produção de gramíneas forrageiras nos trópicos diminuem nos períodos secos do ano, quando pode ocorrer a desnutrição dos animais criados a pasto e, consequentemente, baixo ganho de peso. O desenvolvimento dos bovinos também pode ser comprometido com a ocorrência de verões prolongados. Essas épocas de menor desempenho do animal devem ser levadas em conta por um programa de produção de carne. O ideal seria o crescimento uniforme durante a vida do bovino, mas, devido ao desequilíbrio entre os ganhos na época das águas e da seca, torna-se necessário a suplementação alimentar em certos períodos para que os animais sejam abatidos com idades menores que 30 meses.
O uso de suplementos múltiplos (proteína, energia, minerais, vitaminas, aditivos) na época da seca evita a perda de peso, que ocorre em animais não suplementados nessa época crítica do ano. Vários trabalhos mostraram ganho de peso de bovinos entre 0,059 a 0,740 kg/ animal/dia com um consumo diário por animal de suplementos de 0,05 a 0,6% do peso vivo. Esse ganho de peso ocorre também devido à quantidade e qualidade de matéria seca da forragem disponível por hectare. Além disso, fatores ligados ao animal―raça, sexo, peso, estágio fisiológico, idade e sanidade―e ao ambiente―temperatura e umidade relativa, entre outros, influenciam o ganho de peso. Convém lembrar, porém, que essas práticas devem estar bem contabilizadas dentro do sistema produtivo de forma a elevar a sua lucratividade.
Mesmo na estação chuvosa, quando aparentemente as pastagens podem atender às demandas nutricionais dos animais, a suplementação de proteína e energia pode ser benéfica. Alguns trabalhos mostram que a suplementação de proteína durante a estação chuvosa proporciona ganho adicional diário entre 160 e 300 g/animal. Outras pesquisas mostram ganhos de peso diários de bovinos, na fase de recria, de 0,54 a 1,38 kg/animal, para consumos de suplementos de 0,2 a 0,5% do peso vivo. Na fase de engorda, os ganhos variam de 0,67 a 1,24 kg /animal/dia para consumos de suplementos de 0,06 e 1,2% do peso vivo.
O semiconfinamento consiste no fornecimento de concentrado para animais que estão em pastagens diferidas. As pastagens diferidas são aquelas áreas vedadas durante o final das águas, fevereiro a abril, onde será acumulada uma quantidade de forragem suficiente para os animais pastejarem por um certo período da seca. Essa técnica é baseada na alimentação do animal no pasto e no cocho (ração concentrada). O concentrado é distribuído na proporção de 0,6 a 1,5% do peso vivo dos animais. Se o pasto diferido possuir boa quantidade de matéria seca, suportará de 1,5 a 3 animais por hectare, durante 90 a 120 dias. Esta técnica tem algumas vantagens como a utilização de pouca estrutura de mão-de-obra e grande ganho, que pode chegar a algo que gira em torno de 500 e 900 g/animal/dia.
Estratégias alimentares da desmama ao abate de novilhos Nelore apresentaram um valor positivo para resultado de caixa, valor presente líquido (VPL) e taxa interna de retorno (TIR), com todos bovinos abatidos até 27 meses de idade (ver tabela). A suplementação alimentar obteve resultados econômicos positivos para todas as estratégias avaliadas, contudo a suplementação protéico-energética com consumo de 0,2% do Peso Vivo no primeiro período seco, seguida de uma suplementação mineral nas águas e a terminação feita em confinamento, apresentou melhor resultado de caixa, VPL e TIR. Esses resultados demonstram a viabilidade econômica da suplementação nutricional estratégica (em pastagens ou em confinamento) para bovinos em sistemas tropicais, aliando aumento de produtividade e redução de idade do abate.
Médias das despesas, da receita, do resultado de caixa, do valor presente líquido (VPL) e da taxa interna de retorno (TIR) das diferentes estratégias de suplementação
*Taxa de juros de 0,56% ao mês. **ao mês.
Despesa Tratamentos
BPConf BPSemi BMConf BMSemi APConf APSemi AMConf AMSemi
Compra de Animais R$ 425 425 422 420 415 422 425 440
Suplementação R$ 612 530 460 378 628 546 476 394
Mão-de-obra R$ 103 116 103 116 103 116 103 116
Medicamentos R$ 16 20 16 20 16 20 16 20
Arrendamento pasto R$ 210 300 210 300 210 300 210 300
Sub-Total (A) R$ (mil) 1,36 1,39 1,21 1,23 1,37 1,4 1,29 1,27
Receita
Venda de Animal (B) R$ (mil) 1,67 1,58 1,53 1,53 1,62 1,64 1,64 1,57
Resultado de Caixa 309 192 323 302 250 235 349 307
(A-B) R$/bovino
VPL* R$ 212 92 230 198 157 129 252 199
TIR** 2,09% 1,16% 2,36% 1,91% 1,72% 1,37% 2,45% 1,96%
Por sua vez, o sistema de confinamento objetiva o fornecimento total da dieta do animal no cocho, a qual pode ser formada pela combinação de volumoso e alimento concentrado. Os volumosos mais comuns são: silagens de capins tropicais (Panicum sp., Brachiaria brizantha, etc.), silagem ou capineira de capim elefante, silagem de milho, sorgo, cana de açúcar e bagaço hidrolisado, entre outras. Como alternativa para os entraves da produção e estocagem de alimentos volumosos, a utilização de dietas com maior proporção de concentrados (70 a 90% da matéria seca da dieta total) ou dietas de exclusivo concentrado (100% na matéria seca da dieta total) demonstrou trazer benefícios para a operacionalização do confinamento. Os ganhos de peso vivo variam de 1,0 a 1,8 kg/animal/dia, dependendo da genética e sexo dos animais, da qualidade do volumoso, do manejo e da quantidade de ração concentrada utilizada (ver tabela).
Tabela 7 – Ganho de peso médio diário (GMD) de animais de diferentes genéticas e classes sexuais terminados em confinamento com diferentes níveis de concentrado na dieta
*nível de concentrado na dieta com base na matéria seca total.
Genética Classe sexual Concentrado (%)* GMD Autor
Charolês x Nelore Macho inteiro 22 1,05 Missio et al. (2009)
40 1,29
59 1,4
79 1,43
Canchim Fêmea 60 1,32 Fernandes et al. (2007)
Macho castrado 1,3
Macho inteiro 1,65
Nelore Macho inteiro ? 75 1,37 Mandarino et al. (2013)
Nelore x Brahman 1,2
Nelore x Angus Macho castrado 60 1,3 Euclides et al. (2001)
Red Angus x Nelore Macho Inteiro 72 1,58 Igarasi et al. (2008 )
A terminação de bovinos em confinamento já foi usada como estratégia para aproveitamento das características sazonais do mercado brasileiro, que permitia altas rentabilidades devido às diferenças de preço do boi gordo entre a safra e a entressafra, alcançando mais de 40% nas décadas anteriores. Porém, atualmente não passa os 20%. Portanto, o confinamento, ao nível de propriedade, deve ser encarado mais como uma alternativa estratégica e complementar para aumentar a escala de produção (arrobas/hectare/ano), com a retirada do gado de engorda das pastagens na seca para entrada dos animais de recria e para produção de novilhos precoces.
A diferença entre os sistemas de semiconfinamento e confinamento se baseia no custo de produção e ganho de peso dos animais. No confinamento, o custo da arroba produzida é mais elevado em razão da demanda por instalações, máquinas e mão-de-obra específica, entre outros. O bovino ganha mais peso desde que a dieta esteja balanceada. Por isso é necessário um maior desembolso financeiro para sua implantação.
As instalações, equipamentos e mão-de-obra especializada definem a capacidade estática do confinamento e exigem altos investimentos financeiros. O custo de implantação gira em torno de R$ 400 a 600/cabeça, sendo que o uso de mais de um ciclo produtivo dilui os custos fixos, no qual o valor pode cair pela metade em um sistema de 2 ciclos, reduzindo em até 67% em um sistema de 3 ciclos.
O uso de ambas as tecnologias deve ser analisado como atividades estratégicas dentro do sistema de produção, pois proporcionam melhor desempenho animal e, consequentemente, a retirada de uma categoria (novilha de 2 a 3 anos, garrotes de 2 a 3 anos, ou bois de 3 a 4 anos) do sistema, levando ao aumento na produtividade anual (arrobas produzidas/hectare/ano) e, normalmente, aumentando a rentabilidade da atividade.
Um aspecto de grande importância na rentabilidade do confinamento é a escala de produção. Há economia de escala quando a expansão da capacidade de produção de determinado empreendimento causa aumento dos custos totais de produção menor que, proporcionalmente, os do produto, resultando em menores custos médios de produção ao longo prazo. O efeito da economia de escala pode ser percebido quando, à medida em que se aumenta a produção, os custos fixos são mantidos constantes, levando à redução dos custos médios unitários por arroba de carne, em função da diluição dos custos fixos por maior quantidade de produto. Avaliando os efeitos da escala de produção na terminação de bovinos de corte em confinamento, a partir de programa de simulação de confinamento de 100, 500 e 1.000 cabeças (machos castrados), um estudo confirmou a viabilidade da atividade, identificando os componentes de maior influência sobre os custos finais. Os sistemas com maior escala apresentaram menores custos totais unitários. Os itens de maior peso sobre os custos totais para os três sistemas foram, em ordem decrescente: aquisição de animais, alimentação e mão-de-obra. Para os três sistemas, tanto a margem bruta quanto a margem líquida foram positivas, mostrando que a atividade foi rentável e pode se manter a longo prazo.
Outro estudo encontrou que o sistema de confinamento com baixa escala (132 cabeças) obteve a arroba produzida mais cara, mas seu resultado econômico foi compensado pela variação da arroba de compra e venda (ver tabela). No sistema de média escala (1241 cabeças), o custo da arroba produzida no confinamento foi mais baixo que o valor de venda, obtendo lucro tanto pelo confinamento como pela variação da arroba de compra e venda. É importante ressaltar que, nesse estudo, não foram considerados outros benefícios decorrentes da adoção de confinamento no sistema de produção, como a antecipação das receitas e os custos de permanência destes animais por mais tempo na fazenda.
Avaliação econômica de confinamento de baixa e média escala de produção em Minas Gerais, no ano de 2011
Baixa Escala (132 cabeças) Média Escala (1241 cabeças)
Custos Operacionais Variáveis COV TOTAL R$* COT % TOTAL R$* COT %
Dieta 46,4 23,4 364 20,7
Máquinas / Mão de obra 7,33 3,7 42 2,4
Vacinas e Outros 5,47 2,76 4,09 0,23
Compra de bovinos 137 70,0 1,32* 75,3
Subtotal 196 98,9 1,73* 98,6
Custos Operacionais Fixos COF 2,25 1,13 23,6 1,35
Custo Operacional Total COT 198 100 1,75* 100
Receitas Totais RT TOTAL R$ (mil) R$/@ TOTAL R$ R$/@
Vendas de bovinos 201 98 1,87* 98,2
Custo arroba produzida (R$) 154 92,1
Margem Bruta (MB) = RT COV 4,74 145
Lucro Operacional (LOp) = MB COF 2,49 121
Lucro Operacional -R$/cabeça 0,02 98,4
Retorno ao Capital Investido - (% mês) 0,42 1,8
Em um terceiro estudo, três sistemas de confinamento foram comparados, analisando-se a viabilidade econômica da terminação de bovinos em confinamento. O sistema 1 era composto por 1189 cabeças, o sistema 2 por 1910 cabeças e o sistema 3 por 666 cabeças. Os custos operacionais variáveis (COV) representaram, em todos os sistemas, o maior percentual do custo operacional total (COT), com valores de 96,0, 97,9 e 97,3%, respectivamente, para os sistemas 1, 2 e 3. A compra dos animais foi o item que mais influenciou o COT, sendo responsável por mais de 70% em todos os sistemas. O lucro operacional foi positivo nos três sistemas, indicando que o confinamento foi uma atividade que conseguiu se viabilizar e pagar todos os custos operacionais (desembolsos e depreciações). O sistema 2 obteve melhor resultado econômico que os sistemas 1 e 3, obtendo maior volume de vendas com um menor custo de arroba produzida, apesar do menor preço de venda da arroba entre os três sistemas. O estudo concluiu que o confinamento por si só não foi uma das melhores opções de investimento, mas sim uma alternativa estratégica para aumentar a escala de produção de uma propriedade, reduzir a lotação de pastagens na seca e produzir novilhos precoces.
Um quarto estudo registrou elevada rentabilidade de 5,85% ao mês para um confinamento de 95 dias de média, com 404 vacas, 758 garrotes, 233 bezerros e bezerras super-precoces, com uma dieta de cana de açúcar e ração concentrada (milho, soja grão, farelo de girassol, mineral e ureia) (ver tabela). O custo operacional total da arroba produzida foi de R$ 71,36, obtendo um lucro operacional total de R$ 393.064, de R$ 23,31 por arroba e de R$ 282/animal. Esses resultados são reflexos de um confinamento no ano de 2010, quando ocorreu uma alta de preço de bovinos no Brasil no período de agosto a novembro, decorrente da baixa oferta de carne. O preço médio de compra foi de R$ 79,30 e o de venda foi R$ 94,67 por arroba, o que, aliado ao custo da arroba produzida de R$ 71,36, fez com que a atividade obtivesse um lucro elevado, ou seja, o custo de produção da arroba e o preço de compra foram mais baixos em relação ao preço de venda.
Avaliação econômica da terminação de bovinos em confinamento no ano de 2010.
Custos Operacionais Variáveis (COV) | TOTAL - R$* (mil) | COT - % |
---|---|---|
Compra de bovinos | 1,34* | 76,7 |
Alimentação | 331 | 18,9 |
Mão de obra | 39,6 | 2,3 |
Vacina e medicamentos | 1,7 | 0,1 |
Combustível | 8,65 | 0,5 |
Subtotal | 1,72* | 98,5 |
Custos operacionais fixos (COF) | TOTAL - R$ | COT - % |
Máquinas e equipamentos | 15,4 | 3,88 |
Benfeitorias | 8,2 | 2,05 |
Subtotal | 23,6 | 5,93 |
Subtotal | 26,3 | 1,5 |
Custo Operacional Total R$ | 1,75* | |
Receita Total RT | TOTAL - R$ | R$/arroba |
Venda de bois | 2,14* | 94,7 |
Custo da arroba produzida (R$) | 71,4 | |
Margem Bruta (MB) = RT COV | 416 | |
Lucro Operacional (LOp) = MB COF | 393 | |
Rentabilidade - % ao mês | 5,85 |
Ao analisar diferentes confinamentos em Minas Gerais de baixa e média escala, nota-se que o custo de produção e a margem líquida estão em função da escala e da capacidade gerencial de cada negócio (ver tabela). Nos anos de crise da pecuária de corte, 2004 a 2007, os resultados econômicos não foram tão favoráveis, mas apresentaram margem líquida positiva por cabeça ou por hectare.
Indicadores técnicos e econômicos de diversos confinamentos em Minas Gerais, nos anos de 2004 a 2011
ML – margem líquida; NA – não avaliado.
Fonte Total de cabeças (mil) Arrobas produzidas (mil) R$/ arroba produzida ML - R$/ período (mil) ML - R$/cabeça ML- R$/ Hec tare (mil)
Barbosa et al., 2005 1,11 3,64 80 12,2 10,9 0,48
0,6 2,65 70,6 7,45 12,4 0,29
0,57 1,96 73,3 8,14 14 0,32
Barbosa et al., 2006 0,85 2,3 87,5 64,4 75,3 2,57
0,6 1,44 85,1 4,48 7,53 0,17
Barbosa et al., 2007 1,18 3,7 77,4 24,6 20,7 0,98
1,19 5,48 62,5 138 72,6 5,54
0,66 1,1 116 43,1 64,7 1,72
Demeu et al., 2010 0,64 NA 82,6 109 169 4,38
0,75 NA 76,7 77,7 103 3,11
Lobo et al., 2011 1,4 0,53 81,8 393 281 9,82
Leão et al., 2012ª 0,13 0,25 154 2,49 18,8 0,49
1,24 0,66 92,1 121 97,8 3,03
Para concluir, os preços de compra dos animais e dos alimentos, além do preço de venda, são de fundamental importância para a viabilidade econômica do confinamento. Em regiões onde o preço de compra do boi (na entrada) é superior a 20% da arroba de boi gordo, os preços de grãos e subprodutos são elevados devido à distância da fábrica até a fazenda e os preços de boi gordo (na venda) não são elevados, fica descartada a possibilidade de realizar confinamento, pois será inviável economicamente na maioria dos anos.