O ESTUDO
Entender como suprir a demanda de carne de forma lucrativa com o menor impacto ambiental é o grande desafio da pecuária de corte brasileira. Nesse intuito o Brasil tem proposto um massivo programa de reforma das pastagens. Porém, esses propósitos podem ser alcançados de forma mais efetiva se a reforma de pastagens for acompanhada de outras estratégias de intensificação que visam aumentar o rendimento animal.
Este estudo objetiva analisar os impactos da intensificação da pecuária bovina de corte no tocante à produção, produtividade, ganhos econômicos e emissões de gases de efeito estufa (GEE) sob diferentes cenários de uso do solo e mixes de manejo da pecuária. Foram modelados quatro cenários sendo um “business-as-usual” (BASE) e outros três de intensificação (MIX-PAST, MIX-SUP, MIX-SUP+). No cenário BASE não há qualquer meta de produção a ser alcançada, considerando-se apenas um incremento médio de produtividade tendencial a partir das taxas históricas. Os demais cenários projetam a evolução do rebanho mediante a adoção de um conjunto de estratégias que objetivam aumentar a produção de carne para um volume pré-estabelecido para 2030. No cenário MIX-PAST é dado maior foco à intensificação via reforma de pasto enquanto nos demais (MIX-SUP, MIX-SUP+) é priorizada a intensificação via suplementação com grãos.
Para simular as diferentes mixes de intensificação da pecuária foi desenvolvido o modelo espacialmente explícito SIMPEC (Simulador de sistemas de produção da Pecuária de Corte bovina). SIMPEC computa os resultados da adoção de diferentes tecnologias propostas o aumento da produção de carne, produtividade, lucratividade, rentabilidade e emissões de GEE, permitindo, com isso, visualizar as melhores estratégias de intensificação da pecuária brasileira. A ferramenta conta ainda com uma interface amigável ao usuário.
Em todos os cenários simulados, o aumento da produção de carne levará a um aumento nas emissões de GEE. Caso o aumento da produção ocorra com uma massiva reforma das pastagens (MIX-PAST), o sequestro de carbono pela reforma dos pastos não será suficiente para compensar as emissões advindas do aumento do rebanho, descartando, assim, a possibilidade de uma pecuária neutra em emissões. Apenas um rebanho menor e mais produtivo, como resultante nos cenários MIX-SUP, MIX-SUP+, poderia amenizar o aumento da produção da carne nas emissões de GEE.
Mais do que aumentar a produtividade por área, é necessário, portanto, o aumento da produtividade por animal, o que reduziria a necessidade de crescimento do rebanho para suprir a demanda de carne e abertura de novas áreas de pastagem. Isso seria possível pela adoção de medidas complementares à reforma do pasto que potencializam o ganho de peso do animal, como a suplementação estratégica dos animais e o confinamento do rebanho. Além de reduzir a intensidade de emissões da carne produzida, essas medidas levarão a melhores resultados produtivos, econômicos e ambientais para o setor.