Dada a sua capacidade de cultivo de grandes safras para a produção de etanol, que evita entre 69-89% das emissões de CO2e em comparação aos combustíveis fósseis, o Brasil poderia exercer um papel fundamental na transição da União Europeia (UE) para a bioeconomia.

Em novo estudo, pesquisadores da unidade de bioeconomia da Comissão Europeia, da UFMG e do Instituto Agro-alimentício de Aragon, na Espanha, examinaram as mudanças no uso da terra no Brasil e as emissões de gases de efeito estufa decorrentes de uma política de importação de etanol pela UE para substituição do diesel, além de projeções para outras treze commodities agrícolas.

A UE precisa de suprimentos externos para manter suas ambiciosas metas ambientais e climáticas, por isso vê o etanol brasileiro como uma solução de curto a médio prazo diante dos rígidos controles aos biocombustíveis tradicionais como o óleo de palma. Entretanto, a abertura do governo brasileiro para o cultivo da cana de açúcar na Amazônia preocupa os europeus e dificulta a assinatura do acordo comercial entre a UE e o Mercosul.

Os resultados do estudo sugerem que a cana-de-açúcar do Brasil poderia satisfazer a demanda crescente de etanol, cumprindo os critérios ambientais exigidos pela União Europeia, uma vez que quase toda a expansão do cultivo poderia ocorrer em pastagens já estabelecidas no Sul e Centro-Oeste do país. No entanto, a expansão das lavouras de cana também impulsionaria a competição por terras ​​com outras grandes commodities, como a soja e a carne bovina.

As tendências de desmatamento nos biomas Amazônia e Cerrado ligadas à produção de soja e carne inviabilizariam a contribuição do Brasil para o Acordo de Paris, com um adicional de cerca de 1±0,3 bilhão de toneladas de CO2eq acima da meta da Primeira Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC – sigla em inglês) até 2030.

Diante desse contexto, o estudo aponta que debates comerciais com foco estreito em apenas uma única commodity, como a cana de açúcar, podem acabar em resultados não-sustentáveis. Logo, o acordo UE-Mercosul necessita referenciais de sustentabilidade sistêmica para serem ratificados.

O estudo foi publicado na revista Nature Scientific Reports e pode ser acessado clicando aqui.