Estratégias e valores de conservação

Em artigos publicados na Nature Sustainability, “Spatially Explicit Valuation of the Brazilian Amazon forest’s Ecosystem Services” Traditional conservation strategies still the best option, pesquisadores defendem volta a ações de conservação bem-sucedidas e precificam serviços ambientais na Amazônia

A Amazônia Brasileira possui ainda 340 milhões de hectares de áreas florestadas. Destes, 62 milhões de hectares são áreas não designadas, podendo ainda ser alvo de uma ocupação desordenada com base na apropriação privada de terras públicas. Um artigo publicado na Nature Sustainability liderado por cientistas brasileiros calculou parte do valor monetário da floresta em pé, mostrando a importância de se proteger esse patrimônio ambiental não somente devido à sua rica biodiversidade e outros inúmeros serviços ambientais, mas também para garantir a sustentabilidade da produção agrícola para as próximas gerações.
O artigo “Spatially Explicit Valuation of the Brazilian Amazon forest’s Ecosystem Services” liderado pelo Prof. Britaldo SoaresFilho da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com economista Jon Strand do Banco Mundial apresenta um esforço inédito de precificação de serviços ambientais na Amazônia. O artigo mostra que o desmatamento de um hectare em algumas regiões da floresta gera perdas anuais de até US$ 40 para a produção de castanha do Pará e US$ 200 para produção madeireira sustentável. Além de impossibilitar a geração de produtos florestais, o desmatamento também gera um impacto indireto na produtividade da agropecuária e na geração de energia hidroelétrica ao interferir no regime das chuvas de outras regiões fora da floresta. O valor somado de diversos serviços pode chegar, em determinadas áreas, a 737 dólares por hectare/ano, muito superior, por exemplo, ao que é gerado pela pecuária de baixa produtividade.
A partir do cálculo do valor de apenas alguns serviços ambientais, posto que o valor total da floresta é enorme e ainda imensurável (madeira, castanha, látex, mitigação da emissão de gases efeito estufa e impacto da redução de chuva, a floresta Amazônica pode contribuir com a economia do país em US$ 8.2 bilhões ao ano. As florestas nas áreas privadas geram US$ 3.3 bilhões, já as áreas de proteção integral, uso sustentável e terras indígenas, somadas alcançam valor de US$ 3 bilhões anuais.

Os 62 milhões de hectares de floresta ainda sem destinação, e por isso com um risco maior de serem desmatadas, geram um valor de US$ 1.9 bilhões ao ano. Através da regulação das chuvas, as florestas somente dessas áreas contribuem anualmente com US$ 422 milhões para a produção agropecuária, o equivalente a 35% do total da rentabilidade líquida da soja em todo o Mato Grosso, principal produtor brasileiro. Ou seja, se essas áreas forem desmatadas, o setor irá perder uma fatia substancial de sua renda por causa de uma menor produtividade causada pela redução de chuvas.

Por esse motivo o Prof. Britaldo Soares-Filho salienta que: “A floresta em pé é muito mais valiosa do que a derrubada, sobretudo se compararmos os seus benefícios para a sociedade como um todo ao valor obtido quando apropriada por poucos”.
Este estudo, porém, quantifica apenas um pequeno espetro dos serviços ambientais. “Trabalhamos com valores que são mensuráveis. Há serviços ambientais da Floresta Amazônica que nem podemos imaginar, como aqueles relacionados ao patrimônio genético que ainda é desconhecido”, conclui o Prof. Britaldo Soares-Filho. Os autores ressaltam também que a precificação dos serviços ambientais é essencial para desenhar estratégias que combinem proteção com o uso sustentável da floresta. Além da publicação, o estudo se encontra disponível em uma plataforma web interativa amazones.info. Participam do artigo também pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Em outro artigo publicado na mesma edição da revista e intitulado “Traditional conservation strategies still the best option”, Britaldo Soares-Filho e Raoni Rajão ressaltam que o agronegócio deve reconhecer que a produção depende das vastas florestas e outras vegetações nativas, que ainda cobrem cerca de 60% do território brasileiro. “O desmatamento terá efeito negativo sobre a produção e os rendimentos agrícola. Promover o desmatamento é matar a galinha dos ovos de ouro da própria agropecuária”, afirma o Prof. Raoni Rajão da UFMG.
Os resultados apresentados pelos os dois estudos publicados na Nature Sustainability se contrapõem de modo direto às afirmações de Evaristo Miranda, pesquisador da Embrapa. Em um artigo publicado no Estado de São Paulo Miranda chega a sugerir ao novo presidente que os 83 Milhões de hectares ainda passiveis de ocupação na Amazônia não precisam ser protegidos.

Artigo: Spatially explicit valuation of the Brazilian amazon forest’s ecosystem services
Autores: Jon Strand, Britaldo Soares Filho, Marcos H. Costa, Ubirajara Oliveira, Sonia C. Ribeiro, Gabrielle F. Pires, Aline Oliveira, Raoni Rajão, Peter May, Richard van der Hoff, Juha Siikamäki, Ronaldo S. da Motta, Michael Toman
Acesso: Nature Sustainability

Artigo: Traditional conservation strategies still the best option
Autores: Britaldo Soares Filho e Raoni Rajão
Acesso: Nature Sustainability